terça-feira, 23 de março de 2010

Galega Rumbeira - José Laurentino


Um matuto amigo meu
da região de Belém
depois que ganhou no bixo
meia duzia de vintem

Comprou em caruaru
um caminhão óleo cru
sem nenhuma garantia
tão velho que os parafusos
se misturavam confusos
na velha carroceria

Em placamentos vencidos
o caminhão tinha três
multas nem é bom falar
era trinta todo mês

Apesar de tudo isso
ainda mostrava serviço
pra sua comunidade
e quando era notificado
vinha um político afamado
devolver-lhe a liberdade

Sei que Ciço conseguiu
através de um candidato
licenciar o pau velho
para trabalhar no mato

Lá trabalhou em rodagem
ajudou fazer barragem
carregou lenha e carvão
e com um ano de serviço
ganhou dinheiro pra Ciço
comprar outro caminhão

Agora já eram dois
de dois passou para três
comprou o quarto e o quinto
com Três anos trinha seis

Fora fazendo de gado
tratror de esteira e arado
pulandeira de algodão
e casa na periferia
era rico e não sabia
Ciço de Napoleão

Colocou numa garagem
o velho alfa-romeu
fundou a CLN
Sigla do comércio seu

Depois de resistrada
botou a frota na estrada
a serviço do transporte
e para qualquer condução
existia um caminhão
da Ciço Leão do Norte

Solteiro sem compromisso
nunca prendeu-se a ninguém
namorou com quem bem quis
de Petrolândia a Belém

Até que um dia em Floresta
chegou pra fazer a festa
um circo bom de primeira
e na noite que estreiou
Ciço se apaixonou
pela galega rumbeira

Se o amor dita e rege
o coral do coração
esse atingiu em cheio
Ciço de napoleão

Toda noite ia aplaudi-la
sentado a primeira fila
e cheio de felicidade
e ela muito cortez
dispensava ao seu fregues
total reciprocidade

Ate quando duraria
esta subita paixão
seria mais uma lebre
para sua coleção

Ou a moça bailarina
tão meiga quase divina
veio mesmo pra ficar
ao lado deste rapaz
que tantas largou pra traz
sem nunca se apaixonar

Circo em cidade pequena
nós sabemos muito bem
que na noite que dá gente
na outra não vai ninguém

E só as dispesas aumentam
e os donos não aguentam
por isso tem que arribar
porém deu-se o contrário
Ciço marcou um salário
e mandou o circo ficar

Por o amor a galega
vendeu logo um caminhão
a casa e a pulambeira
de despolpar algodão

depois a terra e o gado
trator e o arado
para fazer numerário
com que reabastecia
um circo que se enchia
por conta do empresário

Nenhum dos dois entendia
o que estava acontecendo
agora bem mais que antes
iam se comprometendo

Tinha gente que dizia
que aquilo era bruxaria
mas num era não senhor
eram só dois corações
em busca de soluções
no tribunal do amor

Quando do que possuia
restava o alfa-romeu
do começo da história
que tanto prazer lhe deu

De maneira inteligente
combinou com aquela gente
de quem se fez oriundo
desarmou o pavilhão
carregou o caminhão
e entrou no oco do mundo

Por onde andou ninguém sabe
o que praticou não diz
apesar de tudo isso
se considera feliz

E do seu passado em floresta
só a saudade lhe resta
e do circo do passado
uma pequena barraca
um quartim e uma macaca
Mas a galega ao seu lado.

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